EM TARDE DE
CONFINAMENTO
Já
não beijo nem abraço,
E
sinto certo embaraço,
Quando
alguém me vem falar.
E
eu penso, como é que faço,
Como
desato este laço,
Como
vou cumprimentar.
Não
sei até quando dura,
Esta
espécie de censura,
Em
que me tapam a boca.
O
certo é que se perdura,
Esta
vida de loucura,
Decerto
vou ficar louca!
Mas
como sou educada,
Não
querendo ser malcriada,
Tenho
que arranjar maneira,
Sem
tocar, sem dizer nada,
Desejar
boa jornada,
A
quem passa à minha beira.
Não
basta dizer “Olá
Como
vai, como é que está?”
Porque
a voz sai abafada,
É
gritar ao Deus dará,
Porque
do lado de lá,
Decerto
não se ouve nada,
Mesmo
que me queira rir,
Piscar
o olho, sorrir,
O
sorriso não existe,
Ninguém
me vai ver mentir,
Que
às vezes estou a fingir,
Que
estou a rir,
Estando
triste.
Não
sei bem se isto me ajuda,
Cumprimentar
como Buda,
Juntando
as mãos num “Namaste”,
Pode
ser, Que Deus me acuda,
Alguém
dizer “Oh miúda,
O
que foi que me chamaste?”
Também
tentei várias vezes,
Ir
imitando os chineses,
Só
fazendo um mesura,
Mas
isto de chinesices,
Só
tem trazido chatices,
Algumas
não tendo cura.
Fazer
como antigamente,
Curvar-me
elegantemente,
Em
vénia palaciana.
Não
resulta certamente,
Vão
pensar que estou demente
Ou
é alguém que os engana.
Bem
sei que uma continência,
Seguida
de reverência,
Ao
bom estilo militar,
É
cumprimento de excelência,
Mas
precisa eficiência,
Não
os consigo imitar.
Muito
fiz, muito ensaiei,
No
assunto trabalhei,
P’ra
arranjar a solução.
Acho
que enfim encontrei,
Um
modelo que eu achei,
Ideal
para a saudação.
E
creio que desta vez,
Vou
seguir um bom caminho!
Faço
o que Bordalo fez,
Num
gesto bem português,
Imitando
o “ZÉ POVINHO”.
Set.10.05.2020
Maria Luisa
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