Um tempo diferente
Eu sou do tempo das mãos
amassando a terra molhada,
a lama moldando na brincadeira,
dos dedos enterrados na erva madura,
do corpo cansado de madrugada
pelas noites de tanto sonhar
sem jeito nem maneira.
Sou do tempo dos campos e da aventura,
o dia todo vivido em liberdade,
das árvores serem subida para o infinito,
do corpo despido nas noites de verão
a correr ao relento pela rua.
Desse tempo em que sabíamos
o nome e o sorriso e o lugar onde morava
a gente da minha terra.
O tempo em que se aprendia
o ritmo em que o coração batia
no encantamento do primeiro namoro,
no caminho da fonte,
no dobrar de cada esquina.
Não! … Não me revejo no tempo de agora
sujeito a um teclado de um computador qualquer,
em que a casa é prisão.
Não! … A este tempo de amizades distantes,
de sonho transformado em ilusão.
Não! ….
Eu quero em mim a certeza
do rio que corre entre o tumulto e a bonança,
como vida que é sangue a pulsar nas veias,
esta que me faz ser adulto
e ser criança.
Sines, 23 de março
de 2020
Muito bom. Os idosos, agora tão segregados, são todos desse inesquecível tempo ... Paciência!
ResponderEliminarLuís Pinho