quinta-feira, 30 de abril de 2020

Diário de um tempo estranho (02/04/2020)


SEI QUE ESTÁS AÍ
02.04.2020

Sei que estás aí,
médico, enfermeiro, polícia, bombeiro, agricultor, pescador, padeiro!...
Sei que estás aí, por ti, por mim, por nós, e isso conforta-me.
Não esqueço aqueles que nos alimentam a alma - família, amigos, artistas e professores -, mas quando a saúde e a alimentação se forem, os sonhos serão apenas memórias distorcidas, rumores.
Sei que estás aí, por ti, por mim, por nós, e isso conforta-me.
Podes não ter o salário que mereces, as condições de trabalho que mereces ou a vida que mereces, mas manténs-te aí, por ti, por mim, por nós.
As manhãs continuam a despertar, mesmo que ninguém lá esteja para as contemplar, mas tu continuas aí, por ti, por mim, por nós.
Amanhã, não sei..., ninguém sabe se vais continuar a ser herói, se vão continuar a bater-te palmas ou a acarinhar-te, mas tu manténs-te aí, por ti, por mim, por nós.
Acordo e sinto-me preso, enlouqueço, percorro as ruas vazias e sós.
Regresso destroçado.
Por vezes, neste embaraço, nem sei o que faço, e ainda que não te conheça, sei que estás aí, por ti, por mim, por nós, e sinto-me reconfortado.
É bem provável que um dia destes sejas ofendido, espancado ou apedrejado, tu sabe-lo bem e eu também, mas continuas aí, por mim, por ti, por nós.
Às vezes sinto-me perdido, desorientado, e depois penso em ti, talvez também te sintas só, esquecido e desamparado, mas continuas aí, por ti, por mim, por nós.
Quero que saibas, que apesar da minha loucura, ainda que não te conheça, nunca irei esquecer-te, porque sei que estás aí, por mim, por nós, por ti.

Fernando Alagoa © todos os direitos reservados

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