quinta-feira, 30 de abril de 2020

Diário de um tempo estranho ( 27/04/2020)


LUÍS HENRIQUE 53 ANOS


“O sucesso é ir de fracasso em fracasso sem perder
  o entusiasmo”                          Winston Churchill

Mais um ano decorreu
E o Luís nos concedeu
Uma alegria sem par.
Confinado está no lar
Com tele-trabalho assíduo,
Pois não se pode parar.
Em período conturbado,
Passamos um mau bocado,
Mas havemos de vencer
O malefício do vírus (1),
Que não tarda vai morrer.
Luís, sem esmorecer,
Com denodo e desembaraço,
Sem temor do fracasso
E caminhando com entusiasmo,
Serás sempre fulgurante,
Agora e doravante.
Vai em frente meu filho;
Demanda o rumo cintilante.

(1) Covid-19                

Luis Pinho 27-04-2020

Diário de um tempo estranho (22/03/2020)


USO INADEQUADO DA PALAVRA GUERRA
22.03.2020

Não..., isto não é uma guerra!
E seria sensato, por respeito para com aqueles que infelizmente a vivem (ou viveram), que não se fizessem comparações ligeiras e absurdas desta natureza. No contexto actual, os únicos que experienciam algo parecido com uma guerra são os profissionais de saúde, e mesmo esses, aquém da brutalidade de um confronto armado.
Numa guerra, onde também coexistem situações graves de saúde pública, a fome abunda, os telhados voam, as casas afundam-se, o chão dá lugar aos abismos, as ruas não ficam desertas porque, pura e simplesmente, desaparecem. As árvores são transformadas em combustível, os animais, que adoramos, passam a integrar a dieta humana. Há pés, e pernas, e braços, e mãos, e dedos, e cabeças, e dentes, e olhos semeados pelo chão. O fogo e as balas consomem a vida à velocidade de um relâmpago.
Numa guerra, as mulheres são violadas e esquartejadas em vida. Os filhos delas são colhidos à terra com uma ligeireza chocante. Os homens são premiados com balas ou transformados em escravos.
Numa guerra, os pais não têm tempo para se aborrecerem com os filhos, porque, infelizmente, há pais que perdem os filhos e filhos que deixam de ter pais.
Numa guerra não há tempo nem vontade para cantar à varanda, porque as atrocidades cometidas roubam a alegria de viver.
Numa guerra não existem açambarcamentos, porque os alimentos, as prateleiras e os edifícios desaparecem em simultâneo, no abraço de uma bomba.
Numa guerra, as bombas chegam mais depressa do que as máscaras, as luvas, os medicamentos, os desinfectantes ou qualquer outra necessidade hospitalar.
Numa guerra, a água escasseia e não pode ser desperdiçada em lavagens supérfluas.
Numa guerra, os megafones não anunciam palavras, cospem fogo.
No campo de batalha não há tempo para disponibilizar fotos e vídeos numa internet que não existe.
Numa guerra, as pessoas não se enfastiam com o telefone, com o computador, com a televisão, com a consola, com os cd's ou com o MP3, porque esses equipamentos não passam de banalidades sem utilidade. Enganar a fome ocupa 18 horas por dia, e as outras 6 são gastas a fugir ao inimigo.
Numa guerra não há lugar para stresses idiotas. O stress vem depois do horror da destruição.
Em democracia, respeitando os seus princípios, cada um é livre para dizer o que quiser, mas sugiro, apelo se preferirem, para que deixem de utilizar termos que em nada contribuem para ilustrar a calamidade que atravessamos, mas são ofensivos para aqueles que, perante a nossa passividade e os nossos muros de arame farpado, enfrentam diariamente o dilema de uma guerra verdadeira e excruciante.

Fernando Alagoa © todos os direitos reservados


Diário de um tempo estranho (02/04/2020)


SEI QUE ESTÁS AÍ
02.04.2020

Sei que estás aí,
médico, enfermeiro, polícia, bombeiro, agricultor, pescador, padeiro!...
Sei que estás aí, por ti, por mim, por nós, e isso conforta-me.
Não esqueço aqueles que nos alimentam a alma - família, amigos, artistas e professores -, mas quando a saúde e a alimentação se forem, os sonhos serão apenas memórias distorcidas, rumores.
Sei que estás aí, por ti, por mim, por nós, e isso conforta-me.
Podes não ter o salário que mereces, as condições de trabalho que mereces ou a vida que mereces, mas manténs-te aí, por ti, por mim, por nós.
As manhãs continuam a despertar, mesmo que ninguém lá esteja para as contemplar, mas tu continuas aí, por ti, por mim, por nós.
Amanhã, não sei..., ninguém sabe se vais continuar a ser herói, se vão continuar a bater-te palmas ou a acarinhar-te, mas tu manténs-te aí, por ti, por mim, por nós.
Acordo e sinto-me preso, enlouqueço, percorro as ruas vazias e sós.
Regresso destroçado.
Por vezes, neste embaraço, nem sei o que faço, e ainda que não te conheça, sei que estás aí, por ti, por mim, por nós, e sinto-me reconfortado.
É bem provável que um dia destes sejas ofendido, espancado ou apedrejado, tu sabe-lo bem e eu também, mas continuas aí, por mim, por ti, por nós.
Às vezes sinto-me perdido, desorientado, e depois penso em ti, talvez também te sintas só, esquecido e desamparado, mas continuas aí, por ti, por mim, por nós.
Quero que saibas, que apesar da minha loucura, ainda que não te conheça, nunca irei esquecer-te, porque sei que estás aí, por mim, por nós, por ti.

Fernando Alagoa © todos os direitos reservados

Diário de um tempo estranho (29/04/2020)


M E M O R A N D U M

* Mais um dia repetitivo, de confinamento e de emergência, porém “ ocupado “ com tarefas ou caseiras, ou de algum lazer.
·           Notícias nada animadoras, um tanto repetitivas, que chegam a instalar o medo e o pânico, cujo tema é como se sabe “ Covide – 19 “ e suas apocalípticas consequências.
·           Números anunciados e visionados, sempre crescentes, virulentos e chocantes, que custam a “ digerir “, de tão pungentes e macabros.
·           A frieza e repetição massiva na divulgação desses trágicos números e “ medidas “ que são postas em execução para abrandar malefícios  deste Corona.
·           Com o objectivo de superar as audiências, tais números, são, ainda mais uma e outra vez mostrados, como se dum campeonato se trate.
·           Por vezes, nas chamadas Redes sociais “ aparecem mensagens por certo bem intencionadas, de suposta esperança, que mostram: “vai ficar tudo bem “.
·           Se ( suponho ) não fossem transmitidas com o objectivo de esperança em melhores dias e para serenar os ânimos, e ainda pelos motivos que são, não seriam credíveis.
·           Um BEM HAJA a TODOS  os profissionais de saúde e COLABORADORES e COOPERANTES, que ajudam “in extremis” a salvar vidas, nesta fase tão difícil.
             Autoridades, Serviços de limpeza, e todos quantos colaboram, Bem hajam !

29.04.2020
“elmano”

Diário de um tempo estranho (29/04/2020)

O NOSSO “ AMIGO “.


Foi na populosa China
Que apareceu certo dia
Onde engendrou uma menina
De seu nome “Pandemia”

Sorrateiro, com requinte
A co(n)vid(ar) se promove.
Não 21 nem 20
Mas somente 19.

Não é de graças nem carinhos
Ameaça-nos amiúde.
“ Fiquem em casa quietinhos
Senão trato-lhes da saúde “

--
Mandou todos p`ró “estaleiro”
Sem precisarem reparação
Depois foi p´lo mundo inteiro
Só a arranjar confusão.

_

Mas a este mandão-mor
Bem como à sua pimpolha
O pessoal de Oxford
Já pensa “fazer a folha”.



Arnaldo Ruaz.
29/04/2020

diário de um tempo estranho (29/04/2020)


Génese : terras do sol nascente;
Nome : Covid dezanove .
Pandémico, mortal, crescente,
Silencioso, infiltrado, promove
Caos, pânico, tragédia,
Expandida na multimédia.

A Terra, exausta, saturada
E bem mais que humilhada
dos humanos desmandos;
com o vírus organiza parceria
isenta de considerandos
com vista a salutar melhoria:

Trabalho messiânico:
De modo eficaz, satânico
O vírus enérgico, cumpridor,
Fértil, avassalador,
Hábil, nesta chamada aldeia global,
            Até informático, não virtual;
Sagaz, trágico,
Mágico !
Sem “ luvas “, sem máscara !
Agilidade rara,
Mais que falso, dissimilado;
Executa, a da Terra Mensagem :
                                              Alterar a deste mundo oca engrenagem. . .

                                               29.04.2020
                                               “elmano”

Diário de um tempo estranho (31/03/2020)


QUERIA TANTO DAR-TE UM ABRAÇO
31.03.2020

Queria tanto dar-te um abraço,
e ficar assim,
em silêncio,
só pelo prazer desse enlace.
Nessa impossibilidade,
vou guardar todos os abraços
e enviá-los para as madrugadas
dos abraços por dar,
assim, cada vez que o sol nascer
nem um só abraço se irá perder,
saberás,
que sou eu que te estou a abraçar.

Fernando Alagoa © todos os direitos reservados

Diário de um tempo estranho (09/04/2020)



             TELEVISÃO TERRORISTA

           “Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror”      
             Charles Chaplin



Corja de Marotos Tenebrosos e Velhacos:(1)
Julgais ser muito bons,
Digo que sois muito fracos.
Comentadores de protagonismo sedentos,
Pivôs incapazes e sangrentos,
Espalham terror aos magotes.
Não pensam na Luz
Nem nas coisas simples da vida,
Mas somente nos suportes
Da insídia, do ardil,
Da exaltação das mortes.
Jamais perderão pela demora
Da tenaz retaliação do Povo,
Que não é tolo,
E não há quem lhe resista.
Virão os dias sem fraudes
Que ditarão nosso consolo,
Apartando de vez o dolo
Da obscena televisão terrorista …

(1) Letras iniciais CMTV

Luis Pinho
09/04/2020



terça-feira, 28 de abril de 2020

Diário de um tempo estranho (28/04/2020)





És, Mãe Natureza, primordial !
                                             Tão regeneradora, equitativa,
Libertária, serena e plural;
                                             Fria, dinâmica, contemplativa . . .

Alegórico mito em gestação . . .
Em sucedâneo Caos e Cosmos.
Mais do Eterno Retorno a rotação;
A anulação dos tempos, do que somos.

Em ti Natureza, o Amor impera:
És Poesia lírica, gerar;
Encanto! A chegada  da Primavera !

Porém, um só senão: porquê não ir
Meu lema junto ao teu, COOPERAR ?
Mas que ansiedade ! que compungir !?

28 de Abril de 2020
 elmano
          

Diário de um tempo estranho (28/04/2020)


A “ mãe “ Natureza, a Terra, o Mundo natural não tem nem quer dono nem patrão,
Deseja, tão só, coordenador / cooperante.
Assim, nos tempos que vão correndo, e que de modo trágico nos fazem amiúde entrar em pânico quase apocalíptico, a Natureza, supostamente saturada dos exageros humanos, enviou, através de um perigoso vírus, uma dolorosa Mensagem, que na minha perspectiva, é “ um sério aviso à navegação “.
A Natureza recomenda ao ser humano para ser mais HUMANO e muito mais solidário
para com o semelhante.
Saturada com todos os exageros negativos praticados,pela espécie humana ( em geral ),
parece ter atingido a tolerância zero e aconselhar meditação para alternativas positivas.
A quarentena que estamos a cumprir, prejudica desastrosamente o Sector económico e financeiro, com todas as sequelas daí provenientes, que se pressupõe a breve trecho relançado em aceleração crescente e rápida.
Porém, está em jogo a VIDA, que se crê preservada com êxito.
Porém, nesta “forçada” quarentena, parecem tomar mais relevância outros temas :
Porquê, para quê a hipocrisia, a arrogância, egoísmo, egocentrismo, vaidade exagerada, consumismo supérfluo, amizade, a falsa amizade, falta de solidariedade ? !
COOPERAÇÃO, o que será ?  Por onde andará ? !
Questões que me coloco nestes, para mim rotineiros dias e noites desta quarentena e confinamento do Covide 19.

Palmela, 28.04.2020
“elmano “

Diário de um tempo estranho (06/04/2020)


                  " V Í R U S  “A N I M A L  D O M É S T I C O” 

“O mundo não está ameaçado pelas pessoas más, mas sim por aquelas que permitem a maldade”
Albert Einstein


Hoje sem grande tormento
Criou-se no meu pensamento
Uma  coisa de espantar;
De  repente minha memória
Regrediu à fresca História
E dispôs-se a formigar (1) 
Que houve ditadores violentos,
Cruéis, desumanos, sangrentos,
Mais implacáveis que o vírus,
Que é menino de coro,
Comparado sem desdouro, (2) 
Com os facínoras carnicentos.
Recorde-se Stalin, Hitler, Mao Tsé-Tung,
Pol Pot, Mengistou Marian, Idi Amin,
Saddam Hussein, Pinochet, Jorge Videla,
A  dinastia norte-coreana Kim Jong (avô, pai, neto) …
Então? Que dizer desta negra lista
De  assassinos?
Coitado do Coronavírus se cotejado,
Em produção de mortos, com estes meninos …

(1) – trabalhar com afã
(2) – sem qualquer mancha




Luís  Pinho
 06/04/2020

segunda-feira, 27 de abril de 2020

Diário de um tempo estranho (04/04/2020)


P Á S C O A  “I N T E R I O R”

   A  Páscoa  está  a  chegar
   Não  será  festiva  este  ano
   Este  rito  bem  profano
   Levar-nos-á  a  pensar.
  
   Frente  ao  nocivo  mal-estar (1)
   Olhe – se  mais  p´ró  tutano,
   Pois  hoje  qualquer  fulano
   Está  confinado  em  seu  lar.

   Realcemos  o  interior”  (2)
   Enfrentemos  a  tempestade
   Bem  funesta,  com  vigor.

   Rejeitemos  com  sobriedade
   O  maléfico  exterior”  (3)
   Que  expele  crueldade.

   (1)  Covid-19
   (2)  Âmago,  íntimo,  alma,  virtude
   (3)  Sede  de  poder,  presunção,  avidez

Luís  Pinho
                 04/04/2020



Diário de um tempo estranho (25/04/2020)


DIARIO DE UM TEMPO ESTRANHO – 25 DE ABRIL DE 2020

25 de Abril de 2020! Dia da Liberdade…em reclusão, isto é, em confinamento. Pela primeira vez depois do 25 de Abril de 1974, os portugueses não puderam comemorar o dia da libertação da ditadura que nos oprimia. Não deixámos no entanto de relembrar todos os movimentos antes, durante e depois desse dia, graças a todos os meios da comunicação social que nos proporcionaram essas recordações. Comemorar um dia tão especial sem poder sair de casa, sem poder conviver com a família e com os amigos, é algo em que jamais teríamos pensado. O meu 25 de Abril de 2020 começou ainda na véspera e avançou pela madrugada adentro acompanhando as recordações que a televisão nos proporcionava neste meu confinamento na própria residência. O meu dia foi também propício às recordações daquele dia que vivi intensamente logo desde madrugada pois por coincidência estava em Lisboa em missão de trabalho e entre duas opções (ficar ou regressar) optei por regressar antes que a Ponte fechasse, e festejar junto da família e dos amigos, todos nós ainda muito incrédulos e também apreensivos quanto ao evoluir dos acontecimentos. Mas cá bem no meu íntimo eu sabia que o povo não deixaria cair esta oportunidade de conseguir a Liberdade. Hoje vou deitar-me com o coração menos oprimido e a alma cheia de agradecimento aos capitães de Abril. Graças a eles, Portugal é hoje uma das dez melhores democracias do mundo. Hoje olvidei o vírus!
                                                                           Fernando Pereira

Diário de um tempo estranho (23/04/2020)


DIÁRIO DE UM TEMPO ESTRANHO – 23 DE ABRIL DE 2020

Hoje acordei muito nostálgico. São dias! A propósito: - Que dia é hoje? Não interessa. Infelizmente tenho razão para estar descolado do tempo. Há um vírus à solta. Invisível, traiçoeiro e porventura cobarde, porque só dá a cara alguns dias depois de nos atacar, e que nos obriga a ficar em casa com medo até de à janela espreitar, não vá ele descobrir-nos. Mas este confinamento trás muitas complicações e de entre elas talvez a psíquica seja a pior Cada semana parece um mês e cada mês não tem fim. Para mero exemplo da confusão mental que esta situação provoca, considero que Março foi o ano mais difícil de passar de todos os tempos. As compras e a socialização passaram a efectuam-se à distância. O nosso relógio interno já não tem percepção do tempo e a vida está mesmo virada do avesso. Afinal, a minha nostalgia tem mesmo razão de ser: Amanhã é sexta-feira, dia de nos encontrarmos com os amigos e petiscarmos no “Pinga Amor” (passe a publicidade) contarmos umas anedotas, e combinarmos o almoço de Domingo. Mas…quando comecei a ouvir as notícias, voltei à realidade: luvas, máscaras, sim, máscaras não, dois metros de distância, lavar as mãos, não tocar no rosto, não apertar a mão, não dar beijinhos… Esta última é que me mata. Mata mais que o próprio vírus. Agora vou deitar-me menos nostálgico, convicto de que este dia será menos um dia no caminho de regresso à normalidade.
                                                                                                          Fernando Pereira

Diário de um tempo estranho (23/04/2020)


Novos Tempos deste tempo

Para que sejamos nós próprios,
Em tempo tão estranho, este tempo dos tempos
Vou tentar apaziguar toda a torrente de sensações
Em força do vento vindo do Universo como centro
Para em fervor nos questionar e apaziguar com reflexões.
Palavras sobre um vírus desconhecido vieram de longe
Em sobressalto num tempo cada vez menos distante
Agonizaram seres que não tiveram tempo para a fuga
Dando a outros a estranha sensação de transmitir a culpa.

Para que sejamos Humanidade,
De forma cerimoniosa nos afastámos e a medo nos escondemos
O nosso temor se confirmou e surgiu em forma de pandemia
Confinamento e distância social se exigiu no próprio amor
E se pensou na Alegoria da Caverna com medo do próprio dia.
Cidades vazias em casas plenas de informação em suspenso
Com preces e ajuda dos profissionais de saúde em fixação
Com a ironia de estar a Humanidade num ecrã como argumento
De um tempo que nos questiona se é realidade ou ficção.

Para que façamos parte dos nossos,
Transformámos a dedicação e o amor na utilidade da união
Entendemos o torpor, avanços e recuos para a comunidade
Filhos e netos ajudaram pais e avós sem estigma de obrigação
Das varandas e vias digitais inventámos actos de solidariedade.




Em testes de matemática e ciência com silêncio em abundância
Tacteámos novos gestos para vidas carentes de abraços
Cantámos, escrevemos, dissemos, gritámos ecos de esperança
A fim de não esquecer que em Primavera continuamos nossos passos.

                                                                            Isabel Melo
                                                                               23/4/2020

Diário de um tempo estranho (25/04/2020)



25 de ABRIL de 2020


Aparentemente idêntico a tantos outros,
chega ao fim o “25 de Abril de 2020”;
o Sol já se esconde para lá da Serra,
deixando apenas espreitar por entre o arvoredo,
alguns dos seus dourados cabelos.
Quão diferente contudo,
esta normalidade.
Talvez na idade do tempo,
nenhum 25 de Abril tenha sido
para os habitantes da terra,
tão diferente, tão estranho, tão opressivo,
quanto este de 2020.
Ironia do destino ou, quem sabe,
talvez um pequeno aviso
ao ser insignificante e tão mal comportado,
que é o ser humano.
Um turbilhão de pensamentos e interrogações,
assola-nos a mente,
sem que para alguma se vislumbre a resposta.
O nosso espírito contorce-se na estranheza do momento,
sufocado pela monstruosa indefinição
que é o futuro,
quando temos apenas a nosso favor,
a feliz circunstância de estarmos vivos.


Arnaldo Ruaz
25/04/2020

domingo, 26 de abril de 2020

Diário de um tempo estranho (07/04/2020)


Ele há pessoas assim



És pescador receoso da linha partida
mais do que previdente no fio forte
que o peixe há de suster.

Tão côncavo, a luz sobre ti próprio retendo
com o temor da mesma irradiar
e se tornar visível a quem te rodeia.

O pão amassas no bulício delicado,
meticuloso no ajuste do fermento,
a massa observando no seu levedar.

Este é o poeta que se esconde
no labirinto das palavras,
rasgando o poema inacabado.

Este é o homem que se teme
no juízo dos seus atos,
tornando o gesto adiado.

Sines, 7 de abril de 2020
José – António Chocolate

Diário de um tempo estranho (02/04/2020)


                . Em tempo de vírus, a minha mãe



No topo da mesa era o teu lugar,
antes era um qualquer porque podias.
Hoje aqui estou sem a tua companhia,
apenas o olhar sereno a divagar.

Houve tempos em que te podias sentar
e a conversa nesta mesa acontecia,
sem pressas entregados a esse vagar
de quem se sentia bem no que dizia.

O lugar, a conversa e o vagar dos dias,
cada palavra sem receio a estar presente,
quem me dera ser quando podias.

O lugar deserto na mesa é que se sente
aquele que só de olhar era alegria
e hoje me dói fundo por estares ausente.

Santa Eulália, 02 de abril de 2020
José – António Chocolate

Diário de um tempo estranho (23/03/2020)


Esperança

Está um tempo de cavar minhocas
como nas tardes primaveris
de adolescente procurando a pescaria,
revolvendo a terra húmida e pura,
sonhando o peixe enganado, guloso
pelo engodo rico nas águas a boiar.

A esperança sempre avivou o olhar
e incendiou o pensamento.
A minhoca mais gorda e viva
a desafiar o peixe cobiçado,
o mais bonito nas águas límpidas,
aquele que se mistura no sonho
a que não se sabe o momento.

A esperança que o sonho alumia,
a minhoca que já é peixe,
as mãos a procuram cavando
a terra húmida.
Sinal de quem acredita
e vive o momento que há de vir.

Sines, 23 de março de 2020
José – António Chocolate


A Casa Convida - 20 de janeiro